domingo, 17 de outubro de 2010

O país que queremos

Por Wedja Martins




          Estamos perto de definir o caminho político que nosso país irá trilhar nos próximos quatro anos. E quando fazemos parte dos segmentos sociais considerados “minorias”, devemos ter uma responsabilidade ainda maior com relação ao nosso voto. Principalmente, porque o conceito sociológico sobre as minorias, diz respeito aos grupos sociais que tiveram direitos negligenciados ao longo da história, a partir da construção de relações pautadas pela desigualdade: mulheres, negros/as, homossexuais, dentre outros.
          Quando escolhemos um/a candidato/a ou um partido político, é aconselhável ficarmos atento ao contexto em que ele/a está inserido/a. É praxe que os/as candidatos/as se atrelem aos partidos por uma convicção ideológica, pois siglas partidárias possuem distinções e antagonismos bastante significativos que caracterizam, muitas vezes, o que é ser da Direita ou da Esquerda. Assim, pautarmos nossa escolha apenas em uma opinião isolada que o/a candidato/a tenha sobre determinado assunto é arriscar uma escolha equivocada e que poderá trazer consequências, pois há um todo a ser considerado.
         Nosso país foi governado durante muito tempo pela Direita. E, apesar dos deslizes cometidos pela esquerda, durante os oito anos do governo Lula, não podemos negar os avanços que tivemos em áreas relevantes e que reverberaram diretamente na nossa qualidade de vida e no acesso aos direitos sociais.
         No governo/esquerda do PT foi criada a Secretaria Especial da Mulher, e a partir daí, a violência doméstica passou a ser discutida e combatida com mais rigor. Foi no governo/esquerda do PT, que por meio da criação da Secretaria da Igualdade Racial, iniciou-se a discussão sobre o acesso do/a negro/a a educação, e que pela primeira vez uma mulher e um negro puderam compor a corte do Supremo Tribunal Federal. Foi esse mesmo governo/esquerda do PT, que através da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, pensou políticas públicas para crianças, adolescentes, idosos/as, deficientes e grupos sociais vulnerabilizados. Foi o governo/esquerda do PT que tornou público o debate sobre os direitos civis dos homossexuais e que possibilitou a milhares de brasileiros/as saírem da linha da pobreza e terem acesso à moradia e alimentação.

        Este ano a eleição foi marcada pela presença de duas mulheres na disputa presidencial, e agora estamos prestes a eleger a primeira mulher presidente do Brasil. E, se por uma questão de igualdade de gênero não for suficiente para confirmarmos o nosso voto em Dilma, quiçá, pela continuidade de um projeto de governo mais justo e igualitário. No entanto, vimos assistindo a um jogo político sujo e lamentável, perpetrado pela imprensa tendenciosamente “direitista”, representada pela Rede Globo e pela revista Veja, que resolveram apelar, fazendo uso de um tema delicado e que requer responsabilidade ao ser abordado, pois se trata de uma das questões mais sérias envolvendo a saúde da mulher.
        O tema do aborto está em voga, nos discursos eleitoreiros do PSDB, não porque o Serra se preocupa com as várias mulheres e meninas estupradas cotidianamente, que dão continuidade à gestação de um feto gerado por um ato violento e que vai marcar para sempre as suas vidas. Serra e a direita não discutem o aborto preocupados com o fato de que no Brasil, uma em cada quatro mulheres já realizou tal procedimento, de forma precária e sem nenhuma assistência do Estado. O Serra não cita que o aborto é a terceira causa morte de mulheres em nosso país. Ele apenas usa o assunto para manipular e incitar o fundamentalismo religioso, que já ceifou muitas vidas ao longo da história, em nome de uma fé cega e desumana. Não debater o aborto seriamente, tratando-o como uma questão de saúde pública, não diminuirá a incidência da prática e as mulheres continuarão morrendo.

         A direita tucana faz uso de um falso e superficial discurso moralismo e ludibria milhares de brasileiros/as,  tentando fazer crer que a “defesa pela vida” é tão somente evitar que uma mulher realize um aborto. Defender a vida é, também, oferecer programas sociais que dêem aos pobres condições de se alimentarem, pois a fome mata. Defender a vida é, também, oferecer às mulheres condições de romperem o ciclo violento nas relações afetivas, pois violência doméstica mata. Defender a vida é, também, oferecer aos negros e homossexuais direitos iguais e acesso a políticas afirmativas, pois a intolerância mata.

        Assim, quando estivermos nas urnas, neste segundo turno, reflitamos seriamente a respeito do tipo de país que queremos. O Brasil é maior do que essa corja de burgueses sedentos pelo poder e nós, brasileiras e brasileiros, somos bem mais inteligentes do que subjuga a direita elitista, mas é preciso acreditarmos nisso e não nos deixarmos alienar, usando nosso senso crítico para escolhermos um governo que nos represente por inteiro, respeitando as diferenças e garantindo a igualdade, pois só existe democracia em um país governado para todas e todos, e não apenas para uma maioria.

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